Informais e microempresas devem ser os mais afetados pela pandemia no Litoral

 

Por Alberto Ramos

O tombo que a economia vai tomar em 2020 em decorrência da crise provocada pela pandemia do coronavírus já é esperado. Uma estimativa do Banco Mundial aponta para retração de 5% no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, um efeito que vai ser sentido de forma variável em cada região.

No Litoral do Paraná, o impacto promete ser grande. Sem produção industrial significativa e com limitações para desenvolvê-la, por ser predominantemente formada por áreas de proteção ambiental, a região depende do turismo, comércio e tem como principal polo econômico o Porto de Paranaguá.

No entanto, para a maioria da população, o que gera renda são trabalhos precários – na construção civil, limpeza de terrenos e jardins, vigilância e comércio informal.
Na avaliação do professor Daniel Gustavo Fleig, titular do curso de Gestão e Empreendedorismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral, são justamente os informais e microempreendedores individuais os que serão mais impactados.

“São as pessoas que estão mais vulneráveis”, sentencia o professor.

“As empresas de porte maior, como uma serralheria, por exemplo, já estão adaptadas para sobreviverem considerando a baixa temporada, mas os informais não. Uma diarista, uma pessoa que carpe terrenos, que vende pão. Todos estão sentindo a crise, mas percebo que o impacto é maior para essas pessoas”, afirma.

Para o docente da UFPR, o período de retomada da economia será fundamental para se estabelecer políticas públicas que possam apoiar de forma eficiente esse público. Para isso, ele defende a integração das políticas de assistência entre os níveis federal, estadual e municipal.

“Eu acredito que a gente vai ter que ter uma mudança da perspectiva do modelo de desenvolvimento. Pensar algumas questões de tributação. Por exemplo, aqui no Brasil a gente tributa muito o consumo e pouco o capital. Tem que reverter um pouco essa questão, taxar as grandes fortunas. Não adianta a gente sobretaxar essas pessoas que já estão em uma situação de dificuldade”, afirma Fleig.

EMPOBRECIMENTO
Com a queda na atividade econômica, o Banco Mundial também estima aumento da pobreza no país. A instituição projeta que o contingente de pessoas que vivem na pobreza extrema deve crescer 5,7 milhões.

O desdobramento dessa realidade entre os sete municípios do Litoral do Paraná tende a ser muito significativo. Um estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Litoral aponta para a possibilidade de avanço da pobreza na região a partir da pandemia, que poderá atingir até 100 mil pessoas – veja aqui a íntegra do estudo.

Parte desses efeitos já estão sendo sentidos por quem mora e trabalha no Litoral.
O comerciante Marcelo de Albuquerque Silva, de 55 anos, estabeleceu-se no começo do ano no Balneário Shangri-lá, em Pontal do Paraná, e já percebeu uma mudança drástica no movimento da lanchonete que mantém à beira da praia.

“Eu vendia cerca de 20 refeições por dia. Depois das restrições e do isolamento social, o movimento foi caindo até o ponto em que não faço mais refeições”, afirma.

Seu faturamento, de cerca de R$ 200 diários, caiu para a média de R$ 40. Para sobreviver e pagar fornecedores, tem tomado dinheiro emprestado com agiotas, mas a conta final acaba sendo mais salgada.

“Espero que suspendam a quarentena logo. Ninguém aguenta mais”, reclama. Marcelo diz estar revoltado com a situação. “Por que não pegam os que se curaram e fazem testes para descobrir uma vacina?”, questiona.
O pedreiro Adenilson Antonio Morais, de 50 anos, conhecido como Dino, também tem passado apuros. Morador em Pontal há dois anos, quando havia muitas obras em andamento e o trabalho era farto, Dino ficou sem emprego.

“Por causa do coronavírus eu perdi clientes. Mandaram parar as duas obras onde eu trabalhava e fiquei dependendo de favor e fazendo bico de pedreiro só quando aparece”, explica.

Atualmente, Dino se alojou na lanchonete de Marcelo, que lhe ofereceu uma barraca de camping para ele pernoitar na parte externa do imóvel. Em troca, o pedreiro ajuda no estabelecimento com a limpeza e outros serviços domésticos.

“Não tenho ideia de como será o amanhã. Acho que, com essa pandemia, a tendência é de tudo piorar”, avaliou Dino.

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Texto Retirado Agora Litoral


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